São
Paulo vivencia um movimento bastante amplo que se deflagrou assim que
a tarifa do transporte público municipal subiu de 3,00 para 3,20.
Liderados pelo MPL, o Movimento Passe Livre, milhões de pessoas
saíram às ruas para mostrar que o povo não está contente com a
maneira como os governantes estão tratando pontos fundamentais para
a vida pública da população, como é o caso do transporte público.
As
primeiras manifestações tiveram um número razoável de pessoas e
culminou com repressão forte por parte da Polícia Militar, que
tradicionalmente não tem o mínimo de preparo para lidar com
manifestações públicas de massa e recorre aos meios que utiliza em
toda e qualquer abordagem: a violência.
A
truculência com que os manifestantes foram tratados e a mídia
pintando um quadro no qual transformavam o direito constitucional de
fazer passeata em atos de vandalismo gratuitos impulsionaram ainda
mais o movimento e levou mais pessoas para a rua. Menos de 15 dias
após o aumento das passagens, São Paulo já contabiliza 4 grandes
atos contra o aumento, com participação cada vez mais massiva e
grande destaque na mídia nacional e internacional sobre o fato.
Dentre
dos zilhões de argumentos contrários à passeata, o que mais me
surpreende é que diz que as pessoas deveriam se levantar contra
“coisas mais sérias”; faz parte desse argumento a ideia de que
os 20 centavos não é um problema e que o transporte em São Paulo
não é o ideal, mas as pessoas tem lugares piores. E sempre surge
alguém para dizer “oras, mas eu suportei isso, porque vocês
também não suportam?”
Em
primeiro lugar a pauta do transporte público é um aglutinador, pois
reúne diversos setores da sociedade em algo prático, que é a
péssima qualidade e alto valor que se paga para um serviço
necessário para a população.
Ao
reunir uma grande quantidade de pessoas em torno dessa questão dos
transportes, cristaliza para todas e todos que o suposto direito
democrático de reivindicar e se manifestar não é garantido.
Tenho
a forte impressão de que a repressão que tem acontecido durante os
protestos tem o intuito de não permitir que em meio a essa pauta
aglutinadora, mas pontual, as pessoas tomem consciência de que não
é apenas uma redução de 20 centavos que deve ser cobrada, mas sim
um sistema de transporte público que não vise o lucro.
E aí
é uma bola de neve, né?
As
pessoas vão parar para refletir que a Polícia não tem o mínimo
preparo para garantir a segurança da população e por isso ela não
deveria sequer existir. Também vão pensar que o transporte deve ser
encarado como um direito e por isso as grandes corporações que
estão por trás desse serviço não podem ter o lucro como foco. E
daí o pensamento, a conscientização vai transbordando de uma pauta
para outra, até que os poucos privilegiados pelo sistema
socioeconômico vigente sejam encurralados pelo povo e todo o anseio
de uma população que não quer mais ser explorada.
Companheiros
que não querem entender o que está acontecendo, não importa se a
gente consegue “dar um jeito” no problema e continuar pagando por
esse péssimo serviço. Não importa se o aumento foi de “apenas”
20 centavos.
Não
é por 20 centavos que as pessoas estão sendo reprimidas. É para evitar a possibilidade de uma transformação social. Qual lado você vai escolher?
Nenhum comentário:
Postar um comentário