sexta-feira, 14 de junho de 2013

Não é por 20 centavos!


São Paulo vivencia um movimento bastante amplo que se deflagrou assim que a tarifa do transporte público municipal subiu de 3,00 para 3,20. Liderados pelo MPL, o Movimento Passe Livre, milhões de pessoas saíram às ruas para mostrar que o povo não está contente com a maneira como os governantes estão tratando pontos fundamentais para a vida pública da população, como é o caso do transporte público.
As primeiras manifestações tiveram um número razoável de pessoas e culminou com repressão forte por parte da Polícia Militar, que tradicionalmente não tem o mínimo de preparo para lidar com manifestações públicas de massa e recorre aos meios que utiliza em toda e qualquer abordagem: a violência.

A truculência com que os manifestantes foram tratados e a mídia pintando um quadro no qual transformavam o direito constitucional de fazer passeata em atos de vandalismo gratuitos impulsionaram ainda mais o movimento e levou mais pessoas para a rua. Menos de 15 dias após o aumento das passagens, São Paulo já contabiliza 4 grandes atos contra o aumento, com participação cada vez mais massiva e grande destaque na mídia nacional e internacional sobre o fato.

Dentre dos zilhões de argumentos contrários à passeata, o que mais me surpreende é que diz que as pessoas deveriam se levantar contra “coisas mais sérias”; faz parte desse argumento a ideia de que os 20 centavos não é um problema e que o transporte em São Paulo não é o ideal, mas as pessoas tem lugares piores. E sempre surge alguém para dizer “oras, mas eu suportei isso, porque vocês também não suportam?”

Em primeiro lugar a pauta do transporte público é um aglutinador, pois reúne diversos setores da sociedade em algo prático, que é a péssima qualidade e alto valor que se paga para um serviço necessário para a população.
Ao reunir uma grande quantidade de pessoas em torno dessa questão dos transportes, cristaliza para todas e todos que o suposto direito democrático de reivindicar e se manifestar não é garantido.
Tenho a forte impressão de que a repressão que tem acontecido durante os protestos tem o intuito de não permitir que em meio a essa pauta aglutinadora, mas pontual, as pessoas tomem consciência de que não é apenas uma redução de 20 centavos que deve ser cobrada, mas sim um sistema de transporte público que não vise o lucro.

E aí é uma bola de neve, né?

As pessoas vão parar para refletir que a Polícia não tem o mínimo preparo para garantir a segurança da população e por isso ela não deveria sequer existir. Também vão pensar que o transporte deve ser encarado como um direito e por isso as grandes corporações que estão por trás desse serviço não podem ter o lucro como foco. E daí o pensamento, a conscientização vai transbordando de uma pauta para outra, até que os poucos privilegiados pelo sistema socioeconômico vigente sejam encurralados pelo povo e todo o anseio de uma população que não quer mais ser explorada.

Companheiros que não querem entender o que está acontecendo, não importa se a gente consegue “dar um jeito” no problema e continuar pagando por esse péssimo serviço. Não importa se o aumento foi de “apenas” 20 centavos.
Não é por 20 centavos que as pessoas estão sendo reprimidas. É para evitar a possibilidade de uma transformação social. Qual lado você vai escolher? 

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