sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O argumento de Rachel Sheherazade ou porque estudamos História



Rachel Sheherazade afirmou que ela vê a reação de “gente de bem” à violência endêmica e a ausência da justiça como algo justo. Nas palavras dela: “legitima defesa coletiva”.
Subverto o raciocínio então. Alguém que nasceu na miséria da periferia paulistana, no fogo cruzado dos morros cariocas ou nas mais diversas periferias, mocambos, alagados, pedaços de terra pelo Brasil a fora, vítima de um sistema social excludente, que tem por base a concentração de riqueza que ainda tem suas condições de vida pioradas pelos anos de escravidão e pelo ranço racista que esse país ainda carrega, não está apenas respondendo na sua própria legítima defesa quando pratica qualquer tipo de ato fora da lei?
Uso ainda seu argumento para questionar mais uma pequena coisa. Caso eu compreenda que os anos de governo tucano no Estado de São Paulo foram responsáveis diretos pelo nível precário da educação existente em São Paulo, sendo, dessa forma, o fator por me fazer ser hoje um profissional com salário e condições de trabalho extremamente defasados, mesmo tendo uma boa formação, eu posso agir em legitima defesa coletiva do ponto de vista do grupo contra ele?
Ou caso companheiras e companheiros que vivem sob o impiedoso domínio da família Sarney e que são vítimas da concentração de terra dos grandes latifundiários nordestinos queiram agir em legítima defesa e assassinem Sarney, eles não estariam certo, sob o ponto de vista dessa mulher?
Dois pesos e duas medidas, enviesado pelo ponto de vista que ela defende hoje: de uma classe dominante que ruma à passos largos para um conservadorismo nunca antes visto. Por outro lado, uma falta de vontade ou ignorância absurda de compreender que por mais que ela queira acreditar nisso, as coisas não se criam do nada, não há uma divisão prévia entre pessoas boas e pessoas más, mesmo que as religiões de hoje em dia divulguem isso. Múltiplas determinações, dialética entre estrutura histórica e conjuntura da ação social das pessoas e sínteses históricas ajudariam essa mulher a falar menos besteiras. E também ajudariam que mais pessoas compreendessem o tamanho do absurdo que ela falou, e exigissem não só sua retratação, mas uma mudança de pensamento coletivo para tentarmos construir ideais necessários, como justiça social, divisão de renda e a construção de direitos humanos.
Por isso, senhoras e senhores, que estudamos História.