terça-feira, 18 de junho de 2013

Escrever História...

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Hoje meu corpo está respondendo um pouco mais devagar do que costuma responder. As pernas tem dores crônicas, os pés queimam e os braços e o pescoço pesam mais do que os quilos a mais que tenho. O dia ontem foi longo. A noite mais ainda.
Minha mente também está mais pesada do que em dia de entrega de relatório de pesquisa. As ideias estão se movimentando tão rapidamente que não conseguem ficar apenas na cabeça; elas transbordam para o resto do meu corpo e sem dúvida alguma contribuem e muito para a lentidão do corpo, as dores físicas.
O cansaço físico foi pela rapidez de sair correndo do trabalho para a faculdade, voltar voando para a Estação Faria Lima, acompanhar a concentração, puxar gritos, caminhar, pular muretas, carregar a mochila nas costas. Carregar a tensão de quem já vivenciou passeatas com duras repressões policiais e tem um olho na manifestação e um olho no movimento, porque precisava proteger os meus e prometi para minha mãe que voltaria pra casa sem nenhum machucado.
A mente está carregada de reflexões e pensamentos, tentando entender o que aconteceu ontem e tentando me explicar porque a maior mobilização popular dos últimos 20 anos foi tão parnasiana. Minha mente bem treinada, para o bem e para o mal, pelo Ofício do Historiador, não quer criticar tudo o que aconteceu, mas sim entender porque faltou conteúdo; entender o estranho vazio que irradiava em meio a tanta gente.

Mas hoje não. Hoje vai ser o coração que vai falar. Porque eu estudo História tem 5 anos. Eu li muito sobre diversas passeatas, manifestações, atos e revoluções. Eu ouvi diversas vezes sobre pessoas que acharam que dava para fazer alguma coisa diferente no mundo, e foram para as ruas para mudar alguma coisa.

E eu também ouvi que minha geração não fazia nada. De um lado os reacionários e conservadores de sempre, dizendo que não valia a pena se manifestar, que era coisa de vagabundo e que o importante era trabalhar. Do outro lado os novos conservadores, que apenas na época deles valia alguma coisa se mobilizar, que apenas na época deles havia luta, que apenas na época deles os problemas eram reais.

Meu coração hoje se permite o direito de ficar feliz em ver tanta gente nas ruas. Mesmo que gritando algumas palavras sem sentido, mesmo que marchando sem uma direção. Porque se as pessoas parecem que não entenderam direito qual é o problema, ao menos elas estão na rua, daí fica mais fácil delas ouvirem.

Meu coração não está cansado. Ele está leve, forte e cheio de sangue. Porque ontem, finalmente , tive a sensação de , pela primeira vez, não estar lendo, mas escrevendo a História.

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