Hoje meu corpo está
respondendo um pouco mais devagar do que costuma responder. As pernas
tem dores crônicas, os pés queimam e os braços e o pescoço pesam
mais do que os quilos a mais que tenho. O dia ontem foi longo. A
noite mais ainda.
Minha mente também
está mais pesada do que em dia de entrega de relatório de pesquisa.
As ideias estão se movimentando tão rapidamente que não conseguem
ficar apenas na cabeça; elas transbordam para o resto do meu corpo e
sem dúvida alguma contribuem e muito para a lentidão do corpo, as
dores físicas.
O cansaço físico
foi pela rapidez de sair correndo do trabalho para a faculdade,
voltar voando para a Estação Faria Lima, acompanhar a concentração,
puxar gritos, caminhar, pular muretas, carregar a mochila nas costas.
Carregar a tensão de quem já vivenciou passeatas com duras
repressões policiais e tem um olho na manifestação e um olho no
movimento, porque precisava proteger os meus e prometi para minha mãe
que voltaria pra casa sem nenhum machucado.
A mente está carregada
de reflexões e pensamentos, tentando entender o que aconteceu ontem
e tentando me explicar porque a maior mobilização popular dos
últimos 20 anos foi tão parnasiana. Minha mente bem treinada, para
o bem e para o mal, pelo Ofício do Historiador, não quer criticar
tudo o que aconteceu, mas sim entender porque faltou conteúdo;
entender o estranho vazio que irradiava em meio a tanta gente.
Mas hoje não. Hoje vai
ser o coração que vai falar. Porque eu estudo História tem 5 anos.
Eu li muito sobre diversas passeatas, manifestações, atos e
revoluções. Eu ouvi diversas vezes sobre pessoas que acharam que
dava para fazer alguma coisa diferente no mundo, e foram para as ruas
para mudar alguma coisa.
E eu também ouvi que
minha geração não fazia nada. De um lado os reacionários e
conservadores de sempre, dizendo que não valia a pena se manifestar,
que era coisa de vagabundo e que o importante era trabalhar. Do outro
lado os novos conservadores, que apenas na época deles valia alguma
coisa se mobilizar, que apenas na época deles havia luta, que apenas
na época deles os problemas eram reais.
Meu coração hoje se
permite o direito de ficar feliz em ver tanta gente nas ruas. Mesmo
que gritando algumas palavras sem sentido, mesmo que marchando sem
uma direção. Porque se as pessoas parecem que não entenderam
direito qual é o problema, ao menos elas estão na rua, daí fica
mais fácil delas ouvirem.
Meu coração não está
cansado. Ele está leve, forte e cheio de sangue. Porque ontem,
finalmente , tive a sensação de , pela primeira vez, não estar
lendo, mas escrevendo a História.
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