Rachel Sheherazade afirmou que ela vê a
reação de “gente de bem” à violência endêmica e a ausência da justiça como algo
justo. Nas palavras dela: “legitima defesa coletiva”.
Subverto o raciocínio então. Alguém que
nasceu na miséria da periferia paulistana, no fogo cruzado dos morros cariocas
ou nas mais diversas periferias, mocambos, alagados, pedaços de terra pelo
Brasil a fora, vítima de um sistema social excludente, que tem por base a
concentração de riqueza que ainda tem suas condições de vida pioradas pelos
anos de escravidão e pelo ranço racista que esse país ainda carrega, não está
apenas respondendo na sua própria legítima defesa quando pratica qualquer tipo
de ato fora da lei?
Uso ainda seu argumento para questionar
mais uma pequena coisa. Caso eu compreenda que os anos de governo tucano no
Estado de São Paulo foram responsáveis diretos pelo nível precário da educação
existente em São Paulo, sendo, dessa forma, o fator por me fazer ser hoje um
profissional com salário e condições de trabalho extremamente defasados, mesmo
tendo uma boa formação, eu posso agir em legitima defesa coletiva do ponto de
vista do grupo contra ele?
Ou caso companheiras e companheiros que
vivem sob o impiedoso domínio da família Sarney e que são vítimas da
concentração de terra dos grandes latifundiários nordestinos queiram agir em
legítima defesa e assassinem Sarney, eles não estariam certo, sob o ponto de
vista dessa mulher?
Dois pesos e duas medidas, enviesado
pelo ponto de vista que ela defende hoje: de uma classe dominante que ruma à
passos largos para um conservadorismo nunca antes visto. Por outro lado, uma
falta de vontade ou ignorância absurda de compreender que por mais que ela
queira acreditar nisso, as coisas não se criam do nada, não há uma divisão
prévia entre pessoas boas e pessoas más, mesmo que as religiões de hoje em dia
divulguem isso. Múltiplas determinações, dialética entre estrutura histórica e
conjuntura da ação social das pessoas e sínteses históricas ajudariam essa
mulher a falar menos besteiras. E também ajudariam que mais pessoas compreendessem
o tamanho do absurdo que ela falou, e exigissem não só sua retratação, mas uma
mudança de pensamento coletivo para tentarmos construir ideais necessários,
como justiça social, divisão de renda e a construção de direitos humanos.
Por isso, senhoras e senhores, que
estudamos História.
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